A História Não Contada do Lago do Naga Cable Park

Você sabia que o Naga Cable Park possui uma atração principal? Se você respondeu Wakeboard, você errou. A estrela do parque é o nosso lago! É claro, afinal sem ele não existiria a adrenalina em cima das pranchas e nem a diversão do Naga Floats. Aliás, sem o lago você nem estaria lendo isso agora. O Naga só existe por causa dele! Mas você sabia que esse grande espelho d’água possui uma história e tanto? Nesse post, narraremos toda a sua trajetória, de sua origem arenosa até se tornar essa incrível arena de diversão e esporte que é hoje.


Um (grande) buraco

É muita areia para o seu caminhãozinho

Vamos voltar no tempo um pouco. Na realidade, iremos voltar com precisão para o dia 27 de fevereiro 1996, 23 anos atrás, para uma área de 82 mil metros quadrados localizada no bairro Guedes em Jaguariúna. Por que? Pois nesse dia, os irmãos José Francisco Bombarda e Luis Carlos Bombarda iniciaram as operações da empresa Bombase em uma antiga cava de argila, exatamente nesse local. 

Quando o empreendimento começou, a ideia era explorar aquele subsolo em busca de materiais valiosos. Os irmãos Bombarda tinham o espírito minerador.

Em primeiro lugar, foram retiradas as camadas de argila que se encontram abaixo da terra. Após retirar toda a argila do local, partiram para as camadas de areia. A empresa precisava de mais areia, então foi feito um aproveitamento do leito de rochas através de britagem e lavagem, procedimento que acelerou o processo de transformação dos fragmentos em areia. Esse processo já ocorre naturalmente através da erosão por água e vento, mas leva dezenas de milhares de anos para ocorrer.

E eles não tinham todo esse tempo.

Água mole em pedra dura…

O que muitos não sabiam é que Zé Bombarda tinha uma paixão real pela área. Talvez por ter sido o local que permitiu com que ele conhecesse tanta gente e fizesse aquilo que ele mais gosta de fazer: interagir com pessoas. Além dos diversos churrascos e festas que promovia, tudo público, aberto para quem quisesse aparecer, Zé também recebia muitos estudantes que tinham um laboratório à céu aberto ali.

Excursões escolares, estudantes de Geologia e áreas correlatas, a maioria da Unicamp, eram visitantes frequentes. Quase que quinzenalmente um grupo aparecia no local. E todos eram sempre bem recebidos, porque Zé tinha orgulho de falar de seu empreendimento. Além disso, o lugar era até mesmo locação para campanhas publicitárias e peças de propaganda. Imagina fotografar um belo trator em um buraco imenso com pedras, areia e todos os apetrechos lúdicos de uma verdadeira área de extração?

Mesmo escondido em uma pequena cidade do interior, o local já era meio que uma celebridade por um um nicho específico de pessoas.

Durante todo o período de extração, os irmãos enfrentaram duros choques em relação às políticas ambientais. Não porque o empreendimento estivesse irregular, mas porque o projeto caminhava em solo instável, quase que no limite da aceitação do poder público. Após um longo período de enfrentamento político, com direito à capas de jornal, ficou determinado que o local deveria, após o término das operações de extração, ser recuperado e transformado em uma área verde.

O peso da fama

Após 6 anos de escavação, a empresa Bombase encerrou as atividades. A profundidade escavada foi de até 27 metros, atingindo o aquífero que abastece a cidade. Por se tratar de um processo limpo de aditivos e contaminantes, nada foi prejudicado. Os minerais incrustados nas rochas sedimentares do leito rochoso conferem uma qualidade muito positiva à água da nascente.

Zé comenta um fato interessante sobre a reserva de água do lago: caso houvessem outros dois empreendimentos com um lago do mesmo tamanho, Jaguariúna poderia enfrentar um período de mais de 1 ano de seca sem ter problemas com abastecimento de água, que hoje é fornecido exclusivamente pelo Rio Jaguari. Água essa com qualidade muito superior à que é fornecida hoje pelo rio. Porém, de acordo com Bombarda, esse tipo de projeto esbarra com legislações e dificuldades burocráticas.

Após plantar diversas árvores no leito da cava, os irmãos deixaram a natureza tomar conta do local. Rapidamente, o local se transformou em um lago. Toneladas de peixes foram comprados, despejados no local e uma nova fase do lugar se iniciava.

 

Um buraco cheio de água e cheio de peixe

O lago está para peixe

Em 2003, inaugurou-se o novo projeto dos Bombarda. Dessa vez, encabeçado pelo irmão Luis Carlos Bombarda. O período de licenciamento do local através dos órgãos ambientais gerou uma repercussão muito positiva na época.

A área recuperada (considerada área de degradação, por ter sido explorada comercialmente na época da extração) rendeu um prêmio concedido pela Câmara Estadual aos irmãos Bombarda pelo recondicionamento do local. Transformando uma área de mineração em espaço ambiental, o local foi recondicionado e integrado ao projeto urbano da cidade. Tal fato ressoava com o pensamento da época em relação à recuperação de áreas naturais, o que fez com que o local ganhasse ainda mais atenção da mídia e se tornasse popular rapidamente.

O pesqueiro teve um papel importante na cidade de Jaguariúna. Além da enorme quantidade de peixes cultivados no lago, foi feita uma reabilitação das margens, com o plantio de muitas espécies de árvores. O local se tornou um importante ponto turístico e passou a ser visitado tanto pelos moradores da cidade, quanto por pessoas que vinham de fora. Para os que viram a época da extração, o local parecia irreconhecível, pois tinha sido completamente transformado.

Um visitante distante

Além do pesqueiro, Luis Carlos também construiu um restaurante no local. O lugar atraía desde famílias que vinham passar o dia no lugar, comendo e pescando, até entusiastas da pesca esportiva. O local contava inclusive com chalés para quem quisesse passar alguns dias pescando, até mesmo de noite, sendo possível praticar pesca noturna.

O local apareceu na televisão, em programas como Terra da Gente, nos jornais e em revistas especializadas. Também era frequentado por pessoas influentes e famosas que gostavam de pescaria. O pesqueiro Berro d`Água foi, durante 7 anos, o pesqueiro mais influente da região, por conta da quantidade imensamente diversa de espécies de peixes e por ser um verdadeiro ponto turístico. 

Mas foi em meados de 2008 que o pesqueiro recebeu a visita do Goiano Pedro Paulo Caldas. Após essa visita, o destino do lago estava prestes a mudar novamente.

 

Um buraco cheio de água, peixe e riders!

Do Brasil, para o mundo!

Pedro Paulo tinha um sonho. Assim como os irmãos Bombarda tiveram. Fascinado por um esporte que ele havia conhecido em uma viagem aos Estados Unidos, resolveu empreender em um negócio pioneiro. Algo inédito não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Pedro Paulo queria montar um Cable Park.

Poucas pessoas na época estavam familiarizadas com o conceito de Cable Park. Muitas até sabiam o que era o Wakeboard, porque o esporte já era praticado nas represas, em seu formato clássico com as pranchas rebocadas pelos barcos. Mas com certeza os irmãos Bombarda não sabiam o que isso significava.

Porém, assim que tudo ficou mais claro, eles logo perceberam que isso era a melhor coisa que poderia acontecer para o lago que eles viram surgir e que cuidaram durante tantos anos. E então resolveram vender o local para Pedro Paulo dar início a um projeto incrível.

(Re)nasceu!

Pedro Paulo tinha o sonho, o conhecimento e o capital para iniciar um negócio novo e ousado. Faltava apenas um detalhe: a autorização ambiental.

Conseguir o licenciamento para um modelo de negócio tão novo e atrelado ao meio-ambiente não era uma tarefa muito simples na época. Isso se deu principalmente pelo fato de que, apesar de possuir uma nascente, o lago não é natural. Ele é resultado de uma área de mineração. Mesmo após ter sido transformado em pesqueiro, o modelo de negócio esperava colocar pessoas dentro do lago e instalar um sistema de torres de cable park.

Foi necessário um trabalho de avaliação das condições prévias do local para garantir que fosse possível ocupar as suas águas com um empreendimento. Com a ajuda dos Bombarda, Pedro Paulo adquiriu o licenciamento através do extinto DEPRN (Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais) – hoje fragmentado em agências ambientais municipais controladas pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). 

Então, em 2009, foi fundado o primeiro Cable Park da América Latina: o Naga Cable Park.

Filho de peixe…

Para Zé, o Naga Cable Park é o melhor aproveitamento possível da área. De acordo com ele, outras áreas de mineração exauridas do país poderiam ter o mesmo destino, já que se trata de um empreendimento que não polui e que ainda possui papel restaurador para o meio-ambiente. Além disso, traz um tipo de entretenimento que não causa impacto negativo na região; na verdade o oposto disso, por se tratar de uma prática esportiva extremamente benéfica por vários fatores.

Com um espelho d’água de 60 mil metros quadrados, o lago foi capaz de alterar o microclima do seu entorno, trazendo frescor, umidade e baixando as temperaturas médias locais. Foi responsável pela geração de muitos empregos diretos e referência em cable wakeboard no mundo, formando atletas profissionais e uma geração de jovens apaixonados pelo esporte.

Um de seus frutos é o próprio filho de Pedro Paulo Caldas, Pedro Machado Caldas, que hoje é o maior atleta de wakeboard do Brasil e está entre os melhores do mundo, competindo internacionalmente e levando o nome do esporte (e da cidade de Jaguariúna, consequentemente) ainda mais longe. Hoje, o Naga Cable Park continua sendo o maior cable park da América Latina e um dos principais empreendimentos de esporte aquático do estado de São Paulo.

E aí? Você nem imaginava que esse lago tinha tanta história assim para contar, não é mesmo?